Estrela da tarde
Era a tarde mais longa de todas as tardes que me acontecia
Eu esperava por ti, tu não vinhas, tardavas e eu entardecia
Era tarde, tão tarde, que a boca, tardando-lhe o beijo, mordia
Quando à boca da noite surgiste na tarde tal rosa tardia
Quando nós nos olhámos tardámos no beijo que a boca pedia
E na tarde ficámos unidos ardendo na luz que morria
Em nós dois nessa tarde em que tanto tardaste o sol amanhecia
Era tarde de mais para haver outra noite, para haver outro dia
Meu amor, meu amor
Minha estrela da tarde
Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Se tu és a alegria ou se és a tristeza
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Foi a noite mais bela de todas as noites que me adormeceram
Dos nocturnos silêncios que à noite de aromas e beijos se encheram
Foi a noite em que os nossos dois corpos cansados não adormeceram
E da estrada mais linda da noite uma festa de fogo fizeram
Foram noites e noites que numa só noite nos aconteceram
Era o dia da noite de todas as noites que nos precederam
Era a noite mais clara daqueles que à noite amando se deram
E entre os braços da noite de tanto se amarem, vivendo morreram
Eu não sei, meu amor, se o que digo é ternura, se é riso, se é pranto
É por ti que adormeço e acordo e acordado recordo no canto
Essa tarde em que tarde surgiste dum triste e profundo recanto
Essa noite em que cedo nasceste despida de mágoa e de espanto
Meu amor, nunca é tarde nem cedo para quem se quer tanto!
José Carlos Ary dos Santos > Estrela da tarde
11 Comments:
supremo... como sempre em Ary dos Santos
Muito bonito este poema... amolece-nos por dentro.
bela escolha
gostei de ler
ADORO! Nem sei se gosto mais do poema ou do Carlos do Carmo a cantar. :)
Também a publiquei em tempos no meu velhinho livro do pó (Saudades do meu bloguinho). :)
Beijinhosssssss
é um poema muito bonito acerca da espera. Da impaciência de se gostar. Adorei.
Excelente escolha... e excelente blog :)
E ´´e tão bom quando se sente assim...bem hajas
Ary dos Santos...Suberbo:D
Gosto imenso do poema e da sua interpretação pelo Carlos do Carmo.
Sabe bem ler um relato, tão belo do encontro de dois amantes, que transcendeu aquela tarde mágica.
"Essa tarde em que tarde surgiste dum triste e profundo recanto
Essa noite em que cedo nasceste despida de mágoa e de espanto"
Incrivel como por momentos certas frases fazem tanto sentido...
"inho"
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